ALDO KRIEGER

A biografia musical de Aldo Krieger tem certamente pelo menos um ponto em comum com a de tantos outros grandes músicos brasileiros: a manifestação de um talento musical espontâneo, que se afirma por força de uma necessidade imperiosa de se realizar, de fazer da música a razão primeira de sua vida.

Esse primado da música, essa necessidade irrefreável do fazer musical, é que certamente levava o jovem Aldinho, aprendiz do ofício de alfaiate, a pular a janela, mal chegada a noite, para se reunir, violino debaixo do braço, com os companheiros de serestas e de boemia, para exercitar os seus dons musicais a pretexto de extravasar seus sentimentos sob a janela de alguma musa.

Essas noitadas seresteiras tiveram certamente uma importância decisiva na definição do seu perfil como músico e particularmente como compositor. É que sua opção por um repertório comum às serestas brasileiras da época forneceu-lhe os modelos para a sua própria produção. As valsas, os tanguinhos, schottisches e polcas que povoavam as noites suburbanas do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde pontificava a música de chorões e seresteiros como Chiquinha Gonzaga, Nazareth, Callado, Pixinguinha, Tupinambá, Zequinha de Abreu, Chico Bororó e outros, formatavam o repertório dos grupos liderados por Aldinho e forneciam os parâmetros rítmicos e expressivos para suas próprias composições, destinadas, num primeiro momento, ao consumo local.

A opção por esses modelos, fruto de um ato decisório pessoal, fez desse músico brusquense um representante autêntico da cultura musical brasileira no sul do país. E isso não obstante as suas próprias raízes culturais ítalogermânicas, a atmosfera cultural européia de sua cidade e a influência inevitável de seu mestre alemão, Professor Graupner, de quem recebera as primeiras informações teóricas e com quem aprendera a tocar o bandoneon. Essa identidade musical brasileira, aliada ao conhecimento de um talento criador espontâneo, foi o que constatou certa vez Pixinguinha, ao ouvir na Rádio MEC do Rio um ensaio em que Altamiro Carrilho e Os Boêmios preparavam a polca-choro Espanta Mosquito de Aldo Krieger: "Esse é dos bons, esse é dos nossos".

A vinculação do jovem Aldinho com os modelos nascentes da música brasileira teria conseqüências definitivas em sua produção posterior. Nos anos 20 e 30 ele se tornaria o grande animador dos carnavais da região, à frente do seu Jazz-Band América, integrado por 10 músicos da família. Depois, como mestre da Banda Musical Concórdia, de Brusque, cultivou o repertório do dobrado brasileiro, expressão característica de nossa identidade musical, que ele admirava a ponto de transcrever para coro misto um famoso dobrado catarinense. E mais tarde, já formado pelo Conservatório Nacional de Canto Orfeônico ao Rio de Janeiro, onde conviveu com Villa Lobos, o seu brasileirismo de juventude voltaria a se manifestar em sua produção madura para coro misto, como a canção marítima Arataia, com letra de Eglê Malheiros, e os arranjos corais de cançôes de autores e do folclore catarinenses, elaborados durante sua permanência à frente da Associação Coral de Florianópolis, nos últimos 10 anos de sua vida.

Rio, abril de 2003. Edino Krieger.

BIOGRAFIA

Aldo Krieger nasceu em Brusque, Santa Catarina, em 05 de julho de 1903. Filho de Gustavo Krieger e de Adelaide Diégoli Krieger, aos sete anos de idade começa a estudar música com o Professor Graupner, iniciando-se no bandoneon. Aos oito anos já acompanhava e substituía seu professor Raymundo Bridon. Ainda adolescente, aprendera a tocar bandoneon, violino, violão, clarinete e saxofone. Formou com os irmãos um conjunto regional que animava o cinema mudo, as serestas e os saraus.

Organizou o primeiro Jazz Band de Santa Catarina, com o qual abrilhantava o carnaval da cidade. Dirigiu a Banda Musical Concórdia, organizou e dirigiu vários corais religiosos e de jovens da comunidade. No Rio de Janeiro, em 1953, fez no conservatório Nacional de Canto Orfeônico um curso intensivo, onde foi aluno de Villa Lobos, Andrade Muricy, entre outros. Participou na mesma época do Curso de Férias da Pró-Arte de Teresópolis-RJ. Durante vários anos foi professor de música do Ginásio Cônsul Carlos Renaux de Brusque.

Em 1956 fundou o Conservatório de Música de Brusque, filiado ao Conservatório de Música do Rio de Janeiro. Em 1961 foi convidado a assumir a direção da recém-fundada Associação Coral de Florianópolis, realizando excelente trabalho de consolidação daquela instituição. Sob sua regência foram realizados vários concertos, tanto em Florianópolis como em outras cidades do Estado de Santa Catarina, o que viria a determinar a personalidade do coral.

Em 1970, sob sua regência, a ACF gravou seu primeiro LP em São Paulo e ainda, neste mesmo ano, foram feitas também em São Paulo, apresentações no Teatro Municipal, TV Tupy e TV Cultura Canal 2. Em abril de 1971 esteve no Rio de Janeiro, quando apresentou-se a frente da ACF na TV Globo, programa “Concertos para Juventude”, na Sala Cecília Meirelles e na Universidade Gama Filho.

Na Capital do Estado, onde viveu por dez anos, além de professor de música e ritmo do curso de Educação Física, ocupou ainda o cargo de Técnico da Divisão de Artes do Departamento de Cultura da Secretaria de Educação e Cultura – Governo de Celso Ramos- onde realizou um trabalho de divulgação de músicas folclóricas brasileiras e catarinenses, bem como de obras musicais de autores catarinenses.

É autor de inúmeras composições para Piano, Canto Coral, Banda de Música, além dos Hinos do Centenário de Brusque e Blumenau, Hino da Associação Coral de Florianópolis, entre outros.

Aldo Krieger faleceu em Florianópolis, em 12 de outubro de 1972.

Carmelo Krieger , 2004